domingo, 30 de março de 2014

A PRIMEIRA ACADEMIA DE LETRAS FEMININA DO ESTADO



Francisco Martins*

                A escritora Zelma Bezerra Furtado de Medeiros, que também é poeta e pesquisadora foi a idealizadora e fundadora da Academia Feminina de Letras do Rio Grande do Norte - AFLRN, em 22 de abril de 2000.
                Ao longo destes 14 anos de existência a  Academia Feminina de Letras vem ganhando espaço no seio cultural e prestando serviço à comunidade. Também em Mossoró existe a Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense- AFLAM, fundada por Maria de Fátima de Castro, em  17 de agosto de 2007.
                Ambas as instituições têm sido Arcádias vivas e atuantes na cultura do Estado, porém, a ideia de se ter uma academia feminina no Rio Grande do Norte não nasceu  com Zelma Bezerra Furtado de Medeiros,  bem antes dela pensar nisto, precisamente  48 anos antes da fundação da  AFLRN houve em Natal uma instituição fundada com este propósito.
                A grande curiosidade é que as duas  academias femininas nasceram no mesmo mês, a primeira do Rio Grande do Norte em 1952 e a segunda em 2000. Até as datas estão bem próximas, respectivamente 21 e 22 de abril.
                Vamos então conhecer esta história.  A Academia Norte-Rio-Grandense de Letras - ANL já estava em funcionamento desde 1936, portanto, há 16 anos. Naquela época, o Presidente  era  Paulo Viveiros.  As mulheres sentiram então o desejo de fundar a sua academia, embora reconhecessem que Palmira e Carolina Wanderley eram imortais da ANL e que esta escolhera três mulheres para compor o quadro de patronas: Nísia Floresta (Cadeira 2), Isabel Gondim (Cadeira 8) e  Auta de Souza (Cadeira 20).
                O certo é que no dia 28 de fevereiro de 1952, um grupo de mulheres formado por Nara de Oliveira Cristina Coelho,  Helione Dantas, Nívea Andrade e Raimunda Paiva começaram a dar corpo a esta ideia. Já nesta primeira reunião ficou decidido que a instituição seria conhecida pelo nome de Academia Feminina de Letras Berta Guilherme.
                Berta Guilherme, que na verdade se chamava Maria Albertina Guilherme,  foi uma professora do Atheneu, a primeira mulher a ensinar Filosofia no Estado. Sobre ela, escreveu recentemente o acadêmico Jurandyr Navarro: Era uma mulher de ação dotada de espírito operoso. Para ela, toda vitória alcançada era prelúdio de outra seguida vitória. Eloquente a sua participação intelectual, do seu tempo, ao ponto de ser homenageada com a criação de uma Arcádia literária, intitulada Academia de Letras “Bertha Guilherme”, tributo raro nos anais culturais da nossa terra..
                 Em março de 1952 é feita mais uma reunião, desta vez na  residência de Nívea Andrade. Nela, além de definirem a data da sessão de fundação, também é escolhida a diretoria que fica assim constituída:  Presidente: Helione Dantas,  Vice Presidente: Neide Gadelha,  1ª Secretária: Nívea Andrade, 2ª Secretária:  Cristina Coelho, Tesoureira: Teresinha Paiva, Bibliotecárias: Maria do Rosário Porpino e Alix Guerra C. Lima.  Trinta patronas foram escolhidas.
                A comissão  entra em contato com o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e agendam a sede desta instituição para ser o local  da sessão de fundação, que acontece na noite de 21 de abril de 1952. Naquela noite, a oradora escolhida é a Dra. Myriam Coely de Araújo. A sessão foi presidida pelo Secretário Geral do Estado,  Américo de Oliveira Costa e contou com a presença de Palmira Wanderley que recordou nomes de mulheres na literatura potiguar e falou sobre Berta Guilherme.
                Estava fundada a primeira Academia Feminina de Letras do Rio Grande do Norte.

*Escritor, poeta, guardião da Biblioteca Padre Luis Monte, da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.

Referências:
NAVARRO, Jurandyr. Professora Maria Albertina Guilherme. In: LIMA. D.C.; BARROS, E.C.A.C. (Org.). Construtores da Ágora Soberana Potiguar – Múltiplas Memórias – Professores do Atheneu Norte-Rio-Grandense (1892/anos 1960). Natal: Ed. Infinita Imagem, 2014. p.205.
Tribuna do Norte, Natal, 29 fev 1952. Revista da Cidade, p.2.
_____________, Natal, 25 abr 1952. Revista da Cidade, p.2.

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