Estou sentado num banco de cimento na Avenida Rio Branco, em Natal. Coisa esquisita é a cidade grande. Já faz um bocado de tempo que vejo várias pessoas passando para lá e pra cá. Acreditem, ninguém carregando uma foice, uma enxada. Esse povo não trabalha? Aqui onde estou tem até uma carroça, mas pressinto que não serve para o burro. As luzes dos postes ficaram acesas de repente, sem quer ninguém tocasse no pitoco. Eu, heim!
São quase seis horas da tarde. Tem uma loja com umas bonecas grandes, brancas, sem um tiquim de sangue. Elas são do tamanho de gente grande. Fui lá e perguntei a moça:
-Boa tarde dona! Me diga quem brinca com boneca assim tão grande?
Ela riu e disse são manequins. Fiquei sem entender.
Olho pro chão e fico espantado com textura. Não tem areia, é duro que nem cimento. Num presta para plantar um pé de fulô, imagine um roçado de mandioca. Sinceramente, eu não sei que esse povo faz aqui na capital. Acabo de ver um ônibus todo lotado, é gente que nem abelha. Será que vão para uma festa? Tão fechando as portas das casas de comércio. Quando eu contar para minha mulher que as portas não são de madeira, mas de flandre, e descem desenroladas até o chão, eu sei que ela vai falar: "Deixa de mentira!". Levanto os olhos para o céu, buscando a lua. Cadê? Vejo não! O que consigo encontrar é uma ruma de prédio, bem alto, chega dá tontura só de espiar. É muita buzina, e não escuto um passarinho. Tem muita lambreta, e nenhum jumento. Muita gente andando com pressa e segurando a bolsa, ninguém dá "boa noite". É a vida na cidade...
Mané Beradeiro
15 de junho de 2022
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