segunda-feira, 22 de agosto de 2022

CLOVIS PIMENTEL EM CORDEL

 


Quem tem oitenta  e três

É para ser bem  lembrado

Nem todos chegam  aqui

Com saúde e aprumado

Olhem pra Clóvis e vejam

Um homem bem arretado

 

Seu vigor é um orgulho

E sua força tão potente

Faz  a gente perguntar:

O que tem em sua mente?

Que segredo guarda Clovis?

Descobrirei minha gente!

 

Cabra macho como ele

Tá difícil  de encontrar

É igual a goladim

Não se vê mais nem plantar

É preciso  ter cuidado

E o DNA guardar.

  

Para ter esta saúde

O segredo é lutar

Acordar antes do galo

Botar ele pra cantar

E dizer ao astro rei:

-Nasça  o Sol neste lugar.

 

Eu escutei uma história

E agora irei contar

Do jeitinho que ouvi

Em cordel vou transformar

Nada nela eu aumentei

Nisso pode acreditar

 

Onde isto se passou

Foi num vale bem fecundo

O lugar era Palmeiras

Se vai lá em um segundo

Desde que o pensamento

Seja claro e profundo.

 

 Morava lá em Palmeiras

A família Pimentel

Sendo Clóvis, patriarca,

Maria seu doce mel,

Debaixo daquele teto

Era ele coronel.

 

Mandava no seu roçado

Os filhos obedeciam

Fosse noite, fosse dia

As ordens eles cumpriam

Os dias iam passando

Era assim  que eles viviam.

 

Naquele torrão  bendito

Onde  o solo é germinoso

Nasce tudo que se planta

É terreno primoroso

Água corre pelos pés

Todo fruto saboroso.

 

Clóvis sempre foi  traquino,

Incansável no labor

Não mijou fora do caco

Nem tinha medo de dor

Sempre enfrentou a vida

Com coragem e amor.

 

Certo dia em Palmeiras

Uma burra adoeceu

Clóvis disse:- Vou curá-la!

Vejam   o que aconteceu

Para matar a bicheira

“Doutor” Clóvis prometeu.

 

A burra desconfiou

Daquele  “doutor” franzino

Mas sem ter veterinário

Aceitou o seu destino

Ser tratada  em Palmeiras

Em um turno vespertino

 

 Pegou a perna da burra

Untou com a gasolina

Riscou ‘fosco’ na bicheira

A burra ficou  ferina

Soltou o verbo e gritou:

-Eu não sou uma lamparina!

 

Clóvis disse: “ tenha calma,

Tá passando  a sua dor.

Logo ficará curada

Acredite no  doutor”

A burra  pulava tanto,

Sentindo forte fervor.

 

Por todo o canavial

Este fato se narrou

A fama do Doutor Clóvis,

Carniceiro se espalhou,

Só perdia para Zumba

Mas a burra melhorou!

 

 Certo dia, em Palmeiras

No terreiro apareceu

Um galo todo tristonho

E pra Clóvis esclareceu

Que a galinha morreria

Pois do papo adoeceu


Clóvis disse ao Garnizé:

“−Viúvo não vai ficar

Eu vou lá no galinheiro

Sua mulher irei curar

Eu sou Clóvis Pimentel

Doutor espetacular”

 

O Galo agradeceu

E pediu em seu clamor:

“─não vá usar gasolina

Na penosa, meu amor,

Não quero vê-la sofrendo

Nem chamuscada de dor”

 

 Clóvis disse à Maria

“−Vou fazer uma cirurgia

Traga uma linha fina

Pois é hoje o grande dia

Que  agulha vai costurar

O papo daquela cria”

 

Quem viu a operação

Testemunha o alarido

Das galinhas no chiqueiro

Gritando por seu marido

“Nos acuda desse médico

Com ele estamos perdido”

 

No final deu tudo certo

“Clotilde” convalesceu

Viveu mais uns cincos anos

E o galo agradeceu

A ação do doutor Clóvis

Que jamais esmoreceu.

 

 Batalhador  como Clóvis

É difícil de se achar

Terra rodará 100 anos

Para outro batizar

Teve tino pro comércio

E bodega foi montar.

 

Na Bodega de Palmeiras

Tinha muito pra vender

Sortida igual aquela

Dava gosto de se ver

Guaraná, fanta,  grapete

Bolacha pra se comer.

 

Clóvis vendia fiado

Sem  ter medo de perder

Sabia que aquela gente

Fazia por merecer

Comprovava a caderneta

O que tinha a receber.

 

Hoje seus olhos atestam

Tudo isso que viveu

Por isso como poeta

Respeito o sogro meu

Agradecendo a Deus

A filha que ele me deu.

 

Finalizo o cordel

Pedindo a compreensão

Daqueles que são seus filhos

Em cima deste torrão

Que cuidem sempre dos pais

Em toda ocasião.

 

Mané Beradeiro

22 agosto 2022 

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