Há uma história que circula pelo anedotário popular que certa vez, um prefeito de uma cidade interiorana mandou sua secretária preencher um cheque no valor de trezentos reais e pagar um prestador de serviço.
A secretária fica ali oscilando com a caneta na mão e pergunta ao prefeito:
-Prefeito, trezentos se escreve com Z ou C?
O prefeito que não sabia da resposta, sai com esta:
-Faça dois cheques de cento e cinquenta, mas pelas caridades pague ao homem!.
Parece até causo de Mané Beradeiro¹, mas não é. Na verdade o ato de escrever bem definiu Ascendino Leite: "escrever é alinhar palavras adequadas para lhes dar a expressão correspondente"². Entretanto, o que tenho descoberto nesta minha caminhada de leitor faminto é que nem sempre as coisas caminham tão bem. Vejamos alguns exemplos.
No livro "O Vendedor de Sonhos"³ de Augusto Cury, na página 184 há pleonasmo vicioso: subiu em cima, bradou alto. Nem mesmo Jean-Paul Satre escapou do pleonasmo, no livro "As Palavras", 6ª edição, Nova Fronteira, traduzido por J. Guinsburg, encontramos na página 45: "bastava-me subir em cima de uma toca". No romance "Dona de Olhos Azuis" o autor usou a palavra estadia, quando na verdade deveria ser estada (páginas 224 e 480). O que eu estranhei mesmo foi no livro "Os Contos de Belazarte", lançado pela Itatiaia, na 7ª edição, Mário de Andrade escreve literalmente xicra e chacra, quando deveria ser xícara e chácara ( páginas 99 e 137). O certo é que vendo estes erros eu aprendi que posso continuar escrevendo, aprendendo e aperfeiçoando meu português e meus conhecimentos gramaticais, necessariamente não preciso ter um cheque de trezentos reais na mão, dois de cento e cinquenta também atendem.
¹Mané Beradeiro, personagem criado por Francisco Martins, que faz parte do Momento do Livro e conta causos e declama poesias matutas.
²Os Dias Memoráveis, 1987, página 194.
³ Edição 2008
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