segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

CARTAS PARA MEL V

O vale tudo, vale médio e o vale nada

do cenário mundial

Por Flávio Rezende*


Minha querida e doce Mel, seu pai, sua linda mãe Deinha e seu carinhoso irmão Gabriel vivem neste momento os primeiros dias do segundo mês do ano 2010, fevereiro, conhecido no calendário gregoriano como o mês do carnaval, uma festa que hoje, serve tanto para relaxar e alegrar famílias e gente de bem, como para a prática de abusos de diversas ordens, com predominância para a ingestão exagerada de bebidas alcoólicas e a prática de sexo sem cuidados, causando problemas futuros para muitos seres.

O nome fevereiro vem do latim “Februarius”, que intitulava as festas em que os romanos festejavam Juno ou Februa, deusa das purificações.

Aqui em Natal, cidade onde moramos, um tema domina a sociedade atualmente. No bairro que habitamos, Ponta Negra existe um belo cenário que deverás conhecer futuramente - espero que da maneira que o observamos hoje e, que, é quase unanimidade, deve ser preservado do avanço das edificações.

A sua preservação é lei, mas nas proximidades, muitos prédios e casas foram construídos. Até o momento todos dentro de um tamanho que deixa o Morro do Careca, esse cenário ao qual me refiro, maior que tudo, sobressaindo sobre o concreto, à beleza natural de sua duna e vegetação nativa.

Recentemente a prefeitura local concedeu a um empresário o direito de construir um prédio perto do Morro do Careca. Com a licença concedida ele começou a obra. Um amigo do seu pai, jornalista Yuno Silva, descobriu a construção e viu que ela ia manchar essa paisagem natural.

Com ajuda de muitos outros começou um movimento. O então prefeito deu razão à turma de Yuno e mandou parar a obra. O tempo passou e uma nova administração assumiu e baseada em decisão de um conselho, liberou. O construtor se animou. No dia seguinte, a prefeita voltou atrás e proibiu. O construtor broxou e reclamou.

Analisando tudo isso, nestes primeiros dias de fevereiro, mês de festas e de idas e vindas, percebemos que as leis são assim: feitas para valer, mas nem sempre valem tudo. Às vezes valem médio e, às vezes, não valem nada.

Tudo bem que às vezes deixam de valer para beneficiar a população, como no caso citado, mas se lei é lei, como podem ter tantas interpretações, derivações, indefinições?

A impressão que está dando neste caso e em tantos outros, é que são feitas de maneira a valerem de acordo com a vontade dos mais poderosos ou da pressão de grupos.

Vejamos, os americanos invadem outros países e pintam e bordam no quintal dos vizinhos. Para eles vale. Quando alguém faz algo contra eles, não vale de maneira nenhuma.

Para algumas religiões, vale matar em nome de Deus, mas morrer de maneira nenhuma. A lei espiritual deles só vale para a interpretação deles.

O cara que aluga um imóvel destaca aspectos da lei que o beneficiam. Já o inquilino só quer ver valendo a proteção à sua condição.

A lei penal vale menos para quem tem dinheiro. Enquanto o pobre vai preso bem rapidinho e para sair é uma novela, o rico nem mesmo entra, já sai. A lei é a mesma, mas vale mais para uns, médio para outros e, não vale nada para alguns.

O texto que orienta a vida dos católicos, protestantes, evangélicos e muitas outras denominações é o mesmo. Para uns vale andar de bermuda, para outros não. Para uns pode trabalhar no sábado, para outros, médio e alguns outros, não total. Uns encontram no texto recomendação para não comer carne, outros dizem que isso não tem nada a ver.

A igreja católica e todas as demais religiões proíbem terminantemente que seus padres, pastores, monges ou místicos tenham envolvimento sexual, principalmente com menores. Não pode! Lendo notícias diariamente percebemos pessoas comuns denunciando o envolvimento desses religiosos nestes atos e, quase nenhuma punição. No dogma não pode, na verdade, pode médio, pode pouco e às vezes, pode mesmo, ao menos assim tem sido.

Minha amada e querida Mel, apesar de regulamentarmos a vida social, esportiva, política e religiosa com leis, decretos, recomendações, bulas e tantas outras invenções eternizadas em livros e em computadores, registradas em cartórios, em constituições e em encíclicas, o que pode e o que não pode são relativos, depende de uma série de circunstâncias.

Impotentes assistimos a esse festival de hipocrisia, de regulamentações nem tanto reguladoras de fato, mas você pode ter uma certeza, o amor de sua família por você tem validade certificada no coração e, por isso mesmo, vale tudo, pois se a frase diz que “a vida é como o mar com várias marés", nosso oceano de carinho por você é imutável na maré que vai e na maré que vem, pois o amor, o puro amor, não tem regulamentação posto que divino, flui lá de dentro e vale por todo o sempre.

Eu, sua mãe Deinha e seu irmão Gabriel torcemos para que no seu tempo, as leis estejam aperfeiçoadas e, valendo, para que a sociedade saiba se guiar, por recomendações que tenham valia e, principalmente serventia, pois melhor que uma lei, é uma conduta que leve a sociedade à justiça social, à paz e à convivência fraterna.

A principal lei que a humanidade deve seguir é a solidariedade entre todos os povos.

* É escritor, ativista social, pai de Mel & Gabriel e jornalista em Natal/RN (jornalistaflaviorezende@gmail.com).

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