Há uma linha tênue entre o ver e o sentir
porque os olhos podem até se enganar
mas a alma, não.
Vejo a linha fina do horizonte,
um solo espelhado, duas árvores.
O mais que o olhar pode é enxergar para além das aparências.
E sei que existem infinitas possibilidades
de frutificar a alegria mesmo na secura dos dias atuais.
No ventre da semente já se guarda o projeto
da árvore inteira, com seu tronco, seus galhos, suas folhas,
suas flores e seus frutos.
Do mesmo jeito, no coração do poema
já existe o pulsar das palavras que um dia correrão nas veias
do mundo, irrigando-o de sonhos possíveis.
Feito a aurora que já se inaugura nos primeiros raios de sol.
O amanhã não me assusta.
Sou pássaro de asas longas que se abrem para o voo
sobre o precipício das ilusões.
E as métricas não me importam mais.
Deixo as rimas de lado.
Resta-me apenas uma folha branca de papel.
Nela, rabisco o mistério do indecifrável existir sem medo.
Numa folha se desenha um rosto qualquer.
E esse rosto sorri um poema.
Depois, a arte lhe sopra um desígnio.
E suas faces se colorem de vida.
E no reverso do espelho surge a contraparte
da face destemida daqueles que se miram
no espelho da inocência.
Do mesmo jeito que o outono desfolha a árvore,
desnudo-me da arrogância e sinto que a grandeza
reside num grão de nada, solto ao vento.
No grão de areia reside a duna
inteira.
E na criança,
a projeção do homem completo.
(José de Castro)
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