Janilson Sales de Carvalho
José Mauro de
Vasconcelos escreveu o romance “Banana Brava” em 1942 e convidou Luís da Câmara
Cascudo para apresentação. Em seu texto, Cascudo relatou alguns dados biográficos
e valorizou a grande aventura vivida pelo escritor na selva brasileira, espaço
onde a narrativa acontece.
Uma das
atitudes admiráveis de José Mauro era conhecer profundamente os lugares e os
grupos humanos que seriam personagens nos seus romances. Aqui no Rio Grande do Norte,
temos entre seus textos: “Barro Blanco”, que tem como personagens os
trabalhadores das salinas de Macau; “Doidão” e “Vamos aquecer o sol”, baseados nas
vivências da adolescência em Natal.
“Banana Brava”
resultou dessa incursão na floresta e da descoberta do mundo violento provocado
pela cobiça nos garimpos lá escondidos. O que se tem na literatura é o surgimento
de viventes que jamais figuraram em romances nacionais. O filósofo Gilles Deleuze
registra em “Crítica e Clínica”: “A
literatura é delírio e, a esse título, seu destino se decide entre dois polos
do delírio. O delírio é uma doença, a doença por excelência a cada vez que
erige uma raça pretensamente pura e dominante. Mas ele é a medida da saúde quando
invoca essa raça bastarda oprimida que não para de agitar-se sob as dominações,
de resistir a tudo o que esmaga e aprisiona e de, como processo, abrir um suco
para si na literatura”
Sem dúvida,
José Mauro revelou em muitos dos seus textos essa “raça bastarda oprimida”.
Lamentavelmente, as universidades ainda não autorizaram seus alunos e
pesquisadores a darem um mergulho na bela obra desse escritor. As poucas
pesquisas realizadas abordam o romance “Meu pé de laranja lima”, seu texto mais
conhecido.
Na apresentação
escrita por Cascudo, o seguinte trecho remete ao tema discutido por Deleuze: “Dos seus meses na Terra dos Homens sem
Piedade, nas Terras Ensanguentadas, nos Garimpos onde viceja e jamais frutifica
a Banana Brava, veio esse romance, rude, claro, luminoso de verdade natural, de
grandeza humana e fabulosa. É a voz que conta a viagem estranha ao Mundo onde
ainda vivem os Cavaleiros da Távola Redonda, com um programa sinistro de
guerra, morte, abnegação e silêncio. Mundo limitado pelos grandes rios, pelas
barreiras altas, pela floresta misteriosa, povoada de sonoridades apavorantes,
inexplicadas e envolventes.”
“Banana Brava”
completa 75 anos em 2017 e permanece desconhecido para maioria dos brasileiros.
Os seus personagens continuam entranhados na selva, só aparecendo em manchetes
sangrentas de jornais sensacionalistas. Mas, o romance foi escrito e está aí
para ser lido. Saiu da coragem de um jovem de 22 anos que se embrenhou na selva
para descobrir esse povo e suas histórias. É hora desse povo (e de cada brasileiro)
descobrir José Mauro de Vasconcelos.
Fonte: Disponível em: http://esperancartes.blogspot.com.br/2017/02/banana-brava-75-anos-do-primeiro.html. Visualizada em 23.02.2017
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