Quando
eu era criança e andava pela Rua Rodolfo Garcia, em Ceará Mirim, sempre tinha
curiosidade em saber quem tinha sido aquele homem que dava nome à rua das
minhas peraltices. Cresci e vim saber que se tratava de um historiador. Hoje,
passados muitos anos, quando minha infância ficou fixa no vale, contemplando a
rosa verde, tomo a liberdade de com base em minhas leituras trazer um pouco de
quem foi Rodolfo Garcia.
Rodolfo
Augusto de Amorim Garcia era descendente da família numerosa Amorim Garcia,
onde as origens brasileiras têm como berço a cidade de Aracati-CE. No Rio
Grande do Norte os Amorim Garcia se fizeram presentes em Nova Cruz, Santana do
Matos, São José de Mipibu, Natal, Ceará-Mirim, e depois Pau dos Ferros e
Martins.
Em
Ceará-Mirim veio morar Augusto Carlos de Amorim Garcia, proprietário do Engenho
do Meio (cujas ruínas nem mais existem), bacharel em Direito, chegando a ser
juiz da monarquia. Casou com Maria Augusta Carrilho de Amorim Garcia. O casal
teve que mudar para o vizinho estado da Paraíba, por questões políticas. Quando
isso aconteceu, Augusto Carlos já tinha seis filhos: Emília, Aprígio, José,
Antônio, Alice, Artur e Rodolfo, que nasceu em 25 de maio de 1873.
Estudou
para ser militar mais não concluiu esse objetivo, pois foi desligado da Escola
Militar da Praia Vermelha por questões filosóficas e posteriormente ingressou
na Faculdade de Direito do Recife, onde colou grau no ano de 1908. Casou com
Ester de Oliveira, pertencente à família dos Barões de Beberibe. Mais uma vez,
a perseguição política se fez presente em sua vida e desta feita o levou em
1913 para a cidade do Rio de Janeiro. Depois de formado em Direito exerceu
algumas atividades laborais tais como: jornalista, professor de história,
geografia, francês e português.
Foi
em 1914, aos 41 anos, que verdadeiramente ele encontrou sua vocação
profissional: bibliotecário. Rodolfo Garcia escreveu “Sistemas de Classificação
Bibliográfica”. Foi bibliotecário do Instituto Histórico do Rio de Janeiro,
Diretor do Museu Histórico e Diretor da Biblioteca Nacional, essas duas últimas
funções respectivamente em 1930 a 1932. O convívio com o universo dos livros
fez dele um pesquisador incansável. Tornou-se historiador, consagrando seu nome
no rol dos grandes homens do Rio Grande do Norte, na seguinte ordem
cronológica: Vicente de Lemos, Tavares de Lyra, Rodolfo Garcia e Câmara
Cascudo.
Sua
produção como historiador foi extensa:
“A
Associação Brasileira de Bibliotecários, em publicação prefaciada por Antônio
Caetano Dias, enumera, como “simples subsídios bibliográficos de Rodolfo
Garcia”, trinta e quatro dos seus principais trabalhos. São estudos sobre a
cultura da indiaria brasileira, os missionários capuchinhos, história das
explorações científicas do Brasil, estudos sobre os judeus no Brasil Colonial e
do santo Ofício da Bahia, Catecismo da Doutrina Cristã na Língua Portuguesa,
Florilégio da Poesia Brasileira”. (VIVEIROS, 1976.)
Não
foram apenas trinta e quatro obras publicadas, mas cerca de cem volumes ao
longo de treze anos de pesquisador. Foi como historiador que se candidatou a
uma vaga na Academia Brasileira de Letras, cadeira trinta e nove, sendo eleito
no primeiro escrutínio, no mês de agosto de 1934. Rodolfo Garcia foi o primeiro
potiguar a fazer parte da Academia Brasileira de Letras, sua posse aconteceu em
abril de 1935, já bem próximo dele completar 61 anos. O Rio Grande do Norte
sabendo da importância dessa conquista participou doando ao imortal o seu fardão.
Participou de outras entidades culturais tais como: Instituto Geográfico
Brasileiro, Institutos Históricos de Pernambuco, Ceará, Alagoas, Bahia e Rio
Grande do Norte, além do Instituto Histórico do Uruguai.
No
dia 14 de novembro de 1949, aos 76 anos, na cidade do Rio de janeiro, faleceu
aquele que soube fazer da sua vida uma dedicação a serviço das letras e do
Brasil. Passados quase 67 anos da sua partida, o nome de Rodolfo Garcia é
homenageado com nome de ruas em Natal, Ceará Mirim, Rio de janeiro, Sorocaba,
Campo Grande, além de ser patrono de uma escola municipal no Rio de Janeiro. Na
Academia Brasileira de Letras é patrono da Biblioteca que foi inaugurada em
2005, com mais de 70 mil volumes.
Em
tudo isso permanece Rodolfo Garcia no topo, como o maior ceará-mirinense que
este país conheceu e para orgulho nosso é patrono da cadeira nº 7 da Academia
Ceará-mirinense de Letras e Artes – ACLA. Quantas voltas a Terra terá que dá em
torno do Sol para que venha nascer outro homem ou mulher com esta magnitude?
Francisco Martins
Referências
CALMOM, Pedro. Rodolfo Garcia - elogio fúnebre. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 209, outubro-dezembro, p. 232-236, 1950.
VIVEIROS, Paulo. Rodolfo Garcia. Tempo Universitário, Natal, v. 1, nº 1, p. 25-38, 1976.
Disponível em http://www.academia.org.br/bibliotecas/biblioteca-rodolfo-garcia. Visualizada em 12 mar 2016
Nota: Texto publicado originalmente na Revista da ACLA - Ano I, nº I, Outubro 2017, páginas 65 a 67.
Nenhum comentário:
Postar um comentário