terça-feira, 28 de novembro de 2017

RODOLFO GARCIA UM ÍCONE QUE SERVIU ÀS LETRAS E AO BRASIL





Quando eu era criança e andava pela Rua Rodolfo Garcia, em Ceará Mirim, sempre tinha curiosidade em saber quem tinha sido aquele homem que dava nome à rua das minhas peraltices. Cresci e vim saber que se tratava de um historiador. Hoje, passados muitos anos, quando minha infância ficou fixa no vale, contemplando a rosa verde, tomo a liberdade de com base em minhas leituras trazer um pouco de quem foi Rodolfo Garcia.
Rodolfo Augusto de Amorim Garcia era descendente da família numerosa Amorim Garcia, onde as origens brasileiras têm como berço a cidade de Aracati-CE. No Rio Grande do Norte os Amorim Garcia se fizeram presentes em Nova Cruz, Santana do Matos, São José de Mipibu, Natal, Ceará-Mirim, e depois Pau dos Ferros e Martins.
Em Ceará-Mirim veio morar Augusto Carlos de Amorim Garcia, proprietário do Engenho do Meio (cujas ruínas nem mais existem), bacharel em Direito, chegando a ser juiz da monarquia. Casou com Maria Augusta Carrilho de Amorim Garcia. O casal teve que mudar para o vizinho estado da Paraíba, por questões políticas. Quando isso aconteceu, Augusto Carlos já tinha seis filhos: Emília, Aprígio, José, Antônio, Alice, Artur e Rodolfo, que nasceu em 25 de maio de 1873.
Estudou para ser militar mais não concluiu esse objetivo, pois foi desligado da Escola Militar da Praia Vermelha por questões filosóficas e posteriormente ingressou na Faculdade de Direito do Recife, onde colou grau no ano de 1908. Casou com Ester de Oliveira, pertencente à família dos Barões de Beberibe. Mais uma vez, a perseguição política se fez presente em sua vida e desta feita o levou em 1913 para a cidade do Rio de Janeiro. Depois de formado em Direito exerceu algumas atividades laborais tais como: jornalista, professor de história, geografia, francês e português.
Foi em 1914, aos 41 anos, que verdadeiramente ele encontrou sua vocação profissional: bibliotecário. Rodolfo Garcia escreveu “Sistemas de Classificação Bibliográfica”. Foi bibliotecário do Instituto Histórico do Rio de Janeiro, Diretor do Museu Histórico e Diretor da Biblioteca Nacional, essas duas últimas funções respectivamente em 1930 a 1932. O convívio com o universo dos livros fez dele um pesquisador incansável. Tornou-se historiador, consagrando seu nome no rol dos grandes homens do Rio Grande do Norte, na seguinte ordem cronológica: Vicente de Lemos, Tavares de Lyra, Rodolfo Garcia e Câmara Cascudo.
Sua produção como historiador foi extensa:
“A Associação Brasileira de Bibliotecários, em publicação prefaciada por Antônio Caetano Dias, enumera, como “simples subsídios bibliográficos de Rodolfo Garcia”, trinta e quatro dos seus principais trabalhos. São estudos sobre a cultura da indiaria brasileira, os missionários capuchinhos, história das explorações científicas do Brasil, estudos sobre os judeus no Brasil Colonial e do santo Ofício da Bahia, Catecismo da Doutrina Cristã na Língua Portuguesa, Florilégio da Poesia Brasileira”. (VIVEIROS, 1976.)
Não foram apenas trinta e quatro obras publicadas, mas cerca de cem volumes ao longo de treze anos de pesquisador. Foi como historiador que se candidatou a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, cadeira trinta e nove, sendo eleito no primeiro escrutínio, no mês de agosto de 1934. Rodolfo Garcia foi o primeiro potiguar a fazer parte da Academia Brasileira de Letras, sua posse aconteceu em abril de 1935, já bem próximo dele completar 61 anos. O Rio Grande do Norte sabendo da importância dessa conquista participou doando ao imortal o seu fardão. Participou de outras entidades culturais tais como: Instituto Geográfico Brasileiro, Institutos Históricos de Pernambuco, Ceará, Alagoas, Bahia e Rio Grande do Norte, além do Instituto Histórico do Uruguai.
No dia 14 de novembro de 1949, aos 76 anos, na cidade do Rio de janeiro, faleceu aquele que soube fazer da sua vida uma dedicação a serviço das letras e do Brasil. Passados quase 67 anos da sua partida, o nome de Rodolfo Garcia é homenageado com nome de ruas em Natal, Ceará Mirim, Rio de janeiro, Sorocaba, Campo Grande, além de ser patrono de uma escola municipal no Rio de Janeiro. Na Academia Brasileira de Letras é patrono da Biblioteca que foi inaugurada em 2005, com mais de 70 mil volumes.
Em tudo isso permanece Rodolfo Garcia no topo, como o maior ceará-mirinense que este país conheceu e para orgulho nosso é patrono da cadeira nº 7 da Academia Ceará-mirinense de Letras e Artes – ACLA. Quantas voltas a Terra terá que dá em torno do Sol para que venha nascer outro homem ou mulher com esta magnitude?

Francisco Martins

Referências

CALMOM, Pedro. Rodolfo Garcia - elogio fúnebre. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 209, outubro-dezembro, p. 232-236, 1950.
VIVEIROS, Paulo. Rodolfo Garcia. Tempo Universitário, Natal, v. 1, nº 1, p. 25-38, 1976.
Disponível em http://www.academia.org.br/bibliotecas/biblioteca-rodolfo-garcia. Visualizada em 12 mar 2016


Nota: Texto publicado originalmente na Revista da ACLA - Ano I, nº  I, Outubro 2017, páginas  65 a 67.

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