Certa noite, ao retornarmos para casa após um jantar na casa de amigos, fomos abordados por um grupo de jovens, no momento em que paramos em um semáforo.
Armados e violentos, nos aterrorizaram.
- Não se mexam! É um assalto!
O medo nos deixou paralisados.
De repente, o que parecia ser o chefe do grupo, com uma das mãos, fez um sinal e todos pararam com a ação e se afastaram.
Aproximou-se do veículo, olhou-nos um a um, fixou os olhos em mim e falou:
Não tenha medo, seu moço,
Não vou mexer com o "sinhô".
É que já faz tanto tempo,
Por isso ocê não "lembrô".
Sou um daqueles "minino"
Que vivia lhe "pidino"
Uns "trocadim", por "favô".
O "sinhô" já s'isqueceu,
Mas ainda eu "tô" lembrado
Do seu jeito, seu sorriso
Quando me dava "os trocado".
Lembro até quando dizia:
Cuidado com "as companhia",
Não escolha o lado errado.
Como o "sinhô" está vendo,
Não me foi dado "escolhê".
Tivesse encontrado outras
Pessoas que nem você,
Aquele pobre "minino"
Teria outro destino,
Não esse que você "vê".
O seu mundo é diferente
Deste onde fui jogado.
Aqui me "formei" em vida,
Consegui ser respeitado.
Com feras eu fui crescendo,
Com elas fui aprendendo,
Em fera fui transformado.
E esta transformação
Logo, logo aconteceu.
Aquele "minino" puro
De olhar doce, morreu.
E uma fera em seu lugar,
Como era de esperar,
No mesmo corpo nasceu.
E a fera nasceu forte
E foi crescendo acuada.
Mas não foi por muito tempo
Que mantiveram enjaulada
(Embora em jaula vivera),
A fera que não nascera
Pra viver encarcerada.
Com o tempo me tornei
Um bandido respeitado.
Mas confesso pro "sinhô"
Que já me sinto cansado.
Cansado de me esconder,
Cansado desse sofrer,
Cansado de ser caçado.
Desculpe estragar seu dia,
Não tive essa intenção.
Vá com DEUS, fale com ELE,
Peça por mim em oração.
Quem sabe siocê falar
ELE vai lhe escutar
E me dá libertação?
FIM
Autor: Marcelo José Gomes Costa
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