GILBERTO CARDOSO
Dando continuidade a análise dos três mais recentes livros da Série Versos Populares - publicados pela CJA Edições, convido o leitor a conhecer o livro do poeta Gilberto Cardoso.
“Um maço de cordéis – lições de gente e de bichos”, da autoria de Gilberto Cardoso. O poeta Gilberto sabe do meu apreço por ele, o quanto o estimo. Temos uma amizade que foi edificada pela literatura. E é em nome desta amizade e pela literatura que peço permissão ao poeta para tratar do seu livro.
Grande
parte dos poemas que compõem este maço de cordéis, já veio ao publico em forma
de folhetos. Outrossim, é bom dizer que esta não é a primeira vez que ele
participa desta Série de Versos
Populares. Foi ele o organizador do segundo
volume, folheto com tiragem de
mil exemplares, com o título de “Tem
tudo não falta nada na feira de Santa Cruz”, um poema coletivo com a participação de nove
poetas: Jarcone Vital, Adriano Bezerra,
Hélio Crisanto, Gilberto Cardoso, Tarcísio José, Chagas Lourenço, Léo Medeiros,
Don Itanildo e Cleudivan Jânio.
O livro de
Gilberto Cardoso principia com um cântico de amor ao sertão nordestino, suas
raízes, suas riquezas materiais e imateriais, quando ele toma por mote “Sou tudo que representa as coisas do meu
sertão” e passa a glosar em 24 décimas, obedecendo ao esquema de rima: abbaaccddc. Aqui, o poeta Gilberto confirma o que escrevi na resenha de Manuel de Azevedo, que o amor ao sertão nordestino está no sangue.
Permanecendo
ainda no campo das décimas, o livro tem outros poemas com este tipo de estrofe,
que desobedecem ao tão conhecido esquema canônico dos poetas. Gilberto Cardoso ao escrever “A criança e o urubu”, opta em fazê-lo com a
sequência : ababbccddc e assim se mantém nas 24 estrofes. O
poema é contundente no tocante a mensagem, que conclama o leitor a refletir
sobre as injustiças sociais. Há duas rimas repetidas na estrofe 4 (p.19).
Com o
esquema abbccddeed, verseja o poeta
em 23 décimas e finaliza com 1 oitava
assinatura (GILBERTO), no poema “Meu
encontro com o Xexéu”. Este poema
é um louvor àquele que viveu 81
anos entre nós, o poeta João Gomes Sobrinho, falecido em 29 de maio deste ano. Uma homenagem àquele que começou a versejar aos 9 anos de idade. Segundo consulta feita pelo autor do
livro, a Marco Haurélio, “estas formas de rimas chegaram a serem
usadas pelos românticos”. Resta saber quais.
No tocante
aos poemas que tem a estrutura de sextilhas, todas abertas, o poeta escreveu
4 cordéis:
1) Um halloween diferente - 32 estrofes /192 versos
Neste poema o eu lírico é um jovem que
escreve aos seus pais, para explicar tudo o que aconteceu. Um texto digno de compor a série da Cabana Maldita. A história é
muito bem construída. Prende o leitor de estrofe a estrofe.
2) Os frutos do orgulho - 21 estrofes /129 versos
São 18 sextilhas e 3 septilhas, que cumprem
o dever de mostrar ao leitor o grande
mal que faz o orgulho na vida do homem.
O poeta lembra também que o
orgulho atinge todas as profissões e camadas sociais.
3) Fabião das Queimadas - o escravo sonhador – 41
estrofes/250 versos
40 sextilhas e 1 décima formam a estrutura poética que vai
narrar a história do mais famoso poeta , cantador e rabequeiro: Fabião.
Pela maneira escrita, pela sonoridade dos versos, pela construção das
estrofes e a beleza das imagens nelas presentes, eu considero um dos melhores
poemas do livro.
4) A sonata do
diabo – 32 estrofes /192 versos.
Eis aqui outro poema digno de aplauso.
Nele, Gilberto Cardoso mergulhou na história e foi buscar a imagem de Giuseppe
Tartini (1692 a 1770), italiano, músico, compositor. O poeta foca seu enredo para “O trinado do Diabo”, uma entre as 400 peças
escritas por Tartini. A estrofe 31 tem
repetição de rima: sagrado/sagrado/pecado (p.102).
E
finalmente, chego aos poemas que são maioria no livro de Gilberto Cardoso, aqueles que têm as estrofes em
septilhas, são eles:
1) A lição de Janielson – 32 estrofes/224 versos
Será ficção a história narrada neste
poema? Senão, a rígida formação dada ao
professor Andrier, não foi capaz de ensiná-lo que “ ser professor é descer ao
nível do aluno e elevá-lo ao nível do professor” –conforme ensinava o Cônego
Monte. O certo é que neste poema, o
leitor vai ter uma linda lição de vida, onde verá que a norma culta nem sempre
carrega em suas leis o calor do amor. Um cordel que com certeza ao ser conhecido pelo Professor Marcos Bagno, doutor em filologia e língua portuguesa, ficará feliz ao ver que outros professores e principalmente poetas, defendem a mesma bandeira.
2) A vingança do poeta
- 24 estrofes/168 versos
O verso de gracejo se faz presente
neste poema. Baseado em fato real, o
poeta Gilberto Cardoso narra uma história em que foi vítima com seu amigo Hélio
Crisanto.
3) A incrível história de Dick – 34 estrofes/238
versos
Quem conta um conto aumenta um ponto,
diz o ditado popular. Mas no cordel que narra a história de Dick isso não procede. Tudo é verdadeiro,
o poeta Gilberto Cardoso foi fiel à narrativa. Vou deixar a curiosidade com o leitor.
Adianto que é também um texto repleto de gracejo. Muito bom!
4) O elogio da leitura – 24 estrofes/168 versos
Aqui, o poeta vai mostrar os valores
que a leitura possui e a importância dela para a transformação de vidas .
5) Estrelas da cultura potiguar - 14 estrofes/98 versos
A prata da casa: Zila Mamede, Auta de Souza, Nísia Floresta, Câmara
Cascudo, Nei Leandro de Castro, José Bezerra Gomes, Deífilo e Tarcísio Gurgel, Antonio Francisco, Fraçois
Silvestre, Homero Homem Siqueira são
alguns do nomes honrosamente celebrados neste cordel.
6) A história de Piabinha – 24 estrofes/168 versos
A cidade de Campo Redondo tem para
sempre na sua história, o exemplo de caridade canina testemunhado através de
uma cadela chamada Piabinha. A cachorra
fez algo naquela pequena cidade que vem perdurando desde 2015 e que vai
continuar sempre presente na literatura.
Este cordel é uma das narrativas que faz jus ao subtítulo do livro “
...lições de gente e de bichos”.
Vou ficando por aqui e nos próximos dias darei continuidade, desta vez resenhando "Histórias Cordelizadas".
Vou ficando por aqui e nos próximos dias darei continuidade, desta vez resenhando "Histórias Cordelizadas".
Mané Beradeiro
01 outubro 2019
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