terça-feira, 6 de outubro de 2020

VISÃO - POEMA DE FRANCISCA JÚLIA (1871-1920)

 


Eu sonhava talvez. Talvez sonhando

Estivesse nessa hora abençoada,

Em que do céu, tranquila, a vi baixando

Por uma grande e luminosa escada.

 

Havia em tudo as silenciosas mágoas

Das noites de luar ... Pálida e nua,

Vagava pelo céu a branca lua

Tremendo toda no bulir das águas ...

 

Vendo-a nem vi os ásperos abrolhos

Em que meus pés iam sagrando.... E vi-a

Nessa atitude de quem ama, os olhos

Claros e azuis postos nos meus...E ria ...

 

Não sei que vago sonho, que ventura

De amor sonhei naquele olhar celeste...

Vi-a envolvida numa fina veste

De vaporosa e imaculada alvura.

 

Desde o dia em que a vi, não sei que estranha

Felicidade me acalenta e acalma;

Vejo-a ao meu lado, sinto-a dentro d'alma;

Ela por toda parte me acompanha.

 

Hei de encontrá-la ainda uma vez; mas onde?

Em que plaga risonha, em que infinita

Pátria encantada essa visão habita

Que à minha voz saudosa não responde?

 

 


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