FRANCISCO MARTINS: QUAL
FOI A SUA EXPERIÊNCIA COM A DOR?
NÍSIA BEZERRA: Toquei a dor
com as mãos, e senti medo. Ah! se você soubesse! o sabor de sangue, o gosto de
dor que eu sinto no peito. Sou feita de dor, doendo, na minha dor meio amarga,
eu sinto o mundo, estrangeiro.
FM: O QUE É QUE LHE DÁ
MEDO?
NB: O amor, a
amizade, o querer bem. O desamor, o desalento, a traição. A mistura disto tudo
que é a vida.
FM: SE PUDESSE VOLTAR
AO TEMPO O QUE VOCÊ FARIA?
NB: Um tempo
para nascer de novo. Ser outro alguém, e não morrer tanto como eu morro.
FM: O HOMEM É UM BICHO
SELVAGEM? COMO VOCÊ CONTEMPLA?
NB:Preciso
olhar frente a frente. Ver de perto se as certezas dos homens têm sentido. É
bicho selvagem no absurdo ato de viver.
FM: NÍSIA BEZERRA É UMA
MULHER DE FÉ?
NB: A minha fé é
fraca. É como um rio que seca no estio. Eu quero a fé de Abraão e Jacó. Eu
quero mais esperança cada dia que chegar.
FM: Para
encerrar: Você é poeta?
NB: Sou terra
seca, terra molhada, húmus de terra. Eu nunca fui poeta, nem asceta. Sempre fui
peregrino.
Nota: Conforme anuncio no título, essa conversa nunca foi real. Perguntas e respostas foram montadas a partir da leitura que eu fiz do livro "Grito Interdito", Natal-RN, 2022.
2 comentários:
o diálogo imaginário entre Francisco Martins e Nísia Bezerra é marcado por reflexões profundas sobre a vida e a condição humana, expressas de forma poética e sensível pela autora. - Gilberto Cardoso dos Santos
Que coisa mais linda, Francisco Martins. Ela iria adorar conversar com você, tenho certeza. Você captou muito bem o ser de Nísia poeta e pessoa, sempre em busca, sempre à frente do seu tempo e do.seu lugar. Como sobrinha, agradeço a sensível leitura dos versos dela. Grande abraço!
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