sexta-feira, 23 de junho de 2023

A CONVERSA QUE EU NÃO TIVE COM A POETA NÍSIA BEZERRA DE MEDEIROS

 



FRANCISCO MARTINS: QUAL FOI A SUA EXPERIÊNCIA COM A DOR?

NÍSIA BEZERRA:  Toquei a dor com as mãos, e senti medo. Ah! se você soubesse! o sabor de sangue, o gosto de dor que eu sinto no peito. Sou feita de dor, doendo, na minha dor meio amarga, eu sinto o mundo, estrangeiro.

 FM: O QUE É QUE LHE DÁ MEDO?

 NB: O amor, a amizade, o querer bem. O desamor, o desalento, a traição. A mistura disto tudo que é a vida.

 FM: SE PUDESSE VOLTAR AO TEMPO O QUE VOCÊ FARIA?

 NB: Um tempo para nascer de novo. Ser outro alguém, e não morrer tanto como eu morro.

 FM: O HOMEM É UM BICHO SELVAGEM? COMO VOCÊ CONTEMPLA?

NB:Preciso olhar frente a frente. Ver de perto se as certezas dos homens têm sentido. É bicho selvagem no absurdo ato de viver.

 FM: NÍSIA BEZERRA É UMA MULHER DE FÉ?

 NB: A minha fé é fraca. É como um rio que seca no estio. Eu quero a fé de Abraão e Jacó. Eu quero mais esperança cada dia que chegar.

 FM:   Para encerrar: Você é poeta?

NB: Sou terra seca, terra molhada, húmus de terra. Eu nunca fui poeta, nem asceta. Sempre fui peregrino.


Nota: Conforme anuncio no título, essa conversa nunca foi real. Perguntas e respostas foram montadas a partir da leitura que eu fiz do livro "Grito Interdito", Natal-RN, 2022.

 

2 comentários:

gilberto cardoso dos santos disse...

o diálogo imaginário entre Francisco Martins e Nísia Bezerra é marcado por reflexões profundas sobre a vida e a condição humana, expressas de forma poética e sensível pela autora. - Gilberto Cardoso dos Santos

Andréa Mota Bezerra de Melo disse...

Que coisa mais linda, Francisco Martins. Ela iria adorar conversar com você, tenho certeza. Você captou muito bem o ser de Nísia poeta e pessoa, sempre em busca, sempre à frente do seu tempo e do.seu lugar. Como sobrinha, agradeço a sensível leitura dos versos dela. Grande abraço!