Ceará Mirim, cidade do interior, década de setenta, dia de feira livre, muita gente vindo à cidade comprar mantimentos. Nas ruas que ficam perto daquela mercearia, diversos caminhões estacionam levando e trazendo as pessoas do meio rural.
A mercearia está cheia, é gente querendo cigarros, alimentos, bebidas, fósforos, etc. Mas há também aqueles que chamam a atenção dos atendentes somente para pedir água. Querem matar a sede. Beber água gelada, coisa dificílima de encontrar na zona rural.
À priori não houve muita contestação sobre este serviço, mas depois, viu-se que os atendentes não só perdiam tempo, como também tinham que lavar bastantes copos, encher garrafas. Nos idos de setenta, copo descartável era artigo de luxo.
Solução encontrada: comprar um pote de barro, deixá-lo ao alcance de todos e amarrar uma corrente na boca do vaso de argila, tendo em sua extremidade uma caneca de alumínio. Assim todos beberiam à vontade e não precisariam pedir aos balconistas.
Foi uma idéia e tanto, funcionou de forma plausível por mais de mês, até que um dia, um rapaz destes bem traquinos, que residia ali por perto teve a iniciativa de jogar dentro do recipiente duas pequenas rãs.
Ninguém desconfiou de nada. Nem mesmo o dono daquele estabelecimento, posto que, o próprio rapaz se prontificou a encher o vaso de barro sempre que fosse preciso. Inteligente e esperto como era, sempre que as pessoas tomavam água, ele aproveitava, levantava a tampa, olhava para dentro e dizia:
__Nunca vi um casal de rãs tão unidas. Elas Vivem sempre agarradinhas, uma em cima da outra.
Quem tinha acabado de tomar daquela água, às vezes olhava para dentro do pote e não encontrava rã nenhuma, pois ele ainda não havia colocado as mesmas lá dentro, mas, mesmo assim, não deixavam de proferir palavrões com aquele rapaz.
Depois, quando ele já percebeu que as pessoas não acreditavam no que ele falava, pois verdadeiramente as rãs lá dentro. E tudo só foi descoberto porque uma das rãs veio dentro do copo de uma senhora, que teve uma reação tão violenta, fruto do medo, que derrubou o pote, espatifando cacos de barro e água espalhada por toda a mercearia.
Depois disto, nunca mais houve pote d’água naquela mercearia e o rapaz, bem, este cresceu e até tentou ser empresário de água mineral, mas ninguém naquela cidade teve coragem de comprar um só vasilhame da sua firma, restou-lhe então mudar de profissão. Hoje ele vive lá pras bandas de Apodi.
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