Quando terminamos o tempo da quarentena fomos realizar o Iº Acampamento, na área de treinamento da Lagoa do Jiqui. Nas mentes de todos aqueles jovens fervilhavam inúmeras perguntas: “Que faríamos?”, “O que nos aguardava?”, “Haveria sofrimento?” e outras mais.
Montadas as barracas, os pelotões começaram a receber as instruções naquele campo. Lembro-me que foi um acampamento inesquecível. Passamos por uma pista de mensageiro, onde devíamos andar sozinho, escondendo-se do suposto inimigo, não se deixando capturar e entregar no final da mesma, a mensagem que nos foi confiada. Este exercício foi feito pela manhã, atravessamos um terreno alagadiço, entramos em pequenos córregos e nossas roupas ficaram molhadas o dia inteiro, além das lamas fedorentas e os coturnos encharcados.
À tarde daquele primeiro dia de acampamento, um tenente nos ensinava a tática de silenciar sentinelas, como atacar sem ser visto e surpreender o inimigo. Muitos soldados ficaram com marcas do cabo de aço no pescoço por vários dias. Veio a noite, fria, escura e saímos para outro exercício: atacar o inimigo que estava naquelas proximidades e pretendia destruir os sistema de fornecimento d’água que abastecia Natal e Parnamirim.
Tínhamos recebidos instruções que toda cautela era necessária. Nenhum barulho. Caminhávamos em fila indiana, dentro da mata fechada, erguendo os pés e baixando-os devagar, evitando quebra de galhos ou qualquer outro barulho que viesse a denunciar nossa posição. Mas, soldado recruta é jovem traquino, dado a surpreender e fazer coisas inesperadas. E aquela noite prometia.
A frente da fila indiana ia o Capitão Raul Carriconde. Em determinado lugar ele percebeu que havia um buraco onde os soldados poderiam tropeçar e provocar barulho. Toma a precaução e avisa a quem vem atrás: --Tem um buraco logo aqui na frente. Cuidado. Avise a quem vem atrás de você. Fale baixo!
E assim, aquela ordem foi sendo cumprida de soldado para soldado.
Mas, se para o poeta havia uma pedra no meio do caminho, para o Capitão Raul Carriconde havia o soldado Bento. Tão logo ele recebeu a exortação sobre o buraco, fez uma das suas, pondo em risco todo o sucesso daquele pelotão: --Ei! atenção, tem um buraco lá frente. Cuidado para não cair nele! Estas palavras pronunciadas de maneira alta provocaram risos e desequilibrou toda a harmonia da missão que vinha sendo executada.
O soldado foi promovido. Tiraram do meio da fila para frente do Capitão Raul Carriconde, que não media esforços em sacolejá-lo e ameaçava dá-lhe uma semana de xadrez, caso o inimigo nos atacasse naquele instante.
Para felicidade do soldado Bento seus gritos perderam-se na imensidão daquela noite, assim como o pio das corujas que voavam naquela mata. Encerrando estas atividades, tivemos, a alegria de presenciar uma belíssima encenação sobre uma batalha, com bastantes tiros de festim e também munição traçante, de várias cores.
Depois, exaustos, cansados, com as roupas totalmente suadas e fedendo a lama, sem banho nenhum por um dia, fomos dormir. Recordo-me bem as palavras proferidas pelo Tenente Arnaud: “ –Isto aqui não é piquenique. O soldadinho não esteja pensando que veio acampar. Brincar de escoteiro. Isso é treinamento. Vocês vão dormir, mas permaneçam atentos. Nada de tirar os coturnos, a gandola e muito menos soltar o fuzil. Durmam abraçados com ele. Entenderam soldados?”
--Sim, senhor, tenente! Respondemos uníssono.
Exauridos tentamos dormir. Nas barracas espalhamos o poncho sobre o solo e fazíamos da mochila o travesseiro. Apenas folgávamos os coturnos e abríamos a gandola. O fuzil preso entre as pernas, nossa “namorada”, como tantas vezes tínhamos ouvido nas instruções de sala lá no quartel.
Surpresas teríamos naquela noite. E elas chegaram. Vieram trazendo em determinado momento um barulho infernal e bastante fumaça. Alguém jogou propositadamente uma granada de efeito moral naquele acampamento. Erguermo-nos, e rapidamente estávamos sob o comando do Tenente Arnaud que juntamente com os sargentos, cada qual respondendo pelo seu pelotão, adentrava a mata e se posicionava para proteger os demais.
Era madrugada. Meu corpo pedia descanso e desde a manhã daquele primeiro dia ansiava também por um banho e tudo o que eu tinha era uma mochila, um capacete de aço sobre outro de fibra, uma farda surja e fedorenta, um cantil e o fuzil. Isso era o que eu possuía para proteger o pedaço da pátria que naquele momento eu era “convidado” a fazer.
Ficamos ali por um bom tempo até recebermos a ordem de voltarmos ao acampamento. Tínhamos apenas pouco mais de três horas para descansar, isto é, se outras surpresas não viessem. E ali, o soldado Martins começou a se perguntar: “Por que vim para esta vida militar? Que planos tem Deus para mim num mundo tão diferente daquele até onde vivi em 1984?”. Olhava para meus companheiros, eles também não sabiam responder nem mesmo o porquê estavam servindo ao exército, imaginem perguntas filosóficas.
Passamos três dias acampados. No outro dia logo pela manhã tomamos banho e assim fizemos também no terceiro dia. O Exército não era tão ruim assim.
Montadas as barracas, os pelotões começaram a receber as instruções naquele campo. Lembro-me que foi um acampamento inesquecível. Passamos por uma pista de mensageiro, onde devíamos andar sozinho, escondendo-se do suposto inimigo, não se deixando capturar e entregar no final da mesma, a mensagem que nos foi confiada. Este exercício foi feito pela manhã, atravessamos um terreno alagadiço, entramos em pequenos córregos e nossas roupas ficaram molhadas o dia inteiro, além das lamas fedorentas e os coturnos encharcados.
À tarde daquele primeiro dia de acampamento, um tenente nos ensinava a tática de silenciar sentinelas, como atacar sem ser visto e surpreender o inimigo. Muitos soldados ficaram com marcas do cabo de aço no pescoço por vários dias. Veio a noite, fria, escura e saímos para outro exercício: atacar o inimigo que estava naquelas proximidades e pretendia destruir os sistema de fornecimento d’água que abastecia Natal e Parnamirim.
Tínhamos recebidos instruções que toda cautela era necessária. Nenhum barulho. Caminhávamos em fila indiana, dentro da mata fechada, erguendo os pés e baixando-os devagar, evitando quebra de galhos ou qualquer outro barulho que viesse a denunciar nossa posição. Mas, soldado recruta é jovem traquino, dado a surpreender e fazer coisas inesperadas. E aquela noite prometia.
A frente da fila indiana ia o Capitão Raul Carriconde. Em determinado lugar ele percebeu que havia um buraco onde os soldados poderiam tropeçar e provocar barulho. Toma a precaução e avisa a quem vem atrás: --Tem um buraco logo aqui na frente. Cuidado. Avise a quem vem atrás de você. Fale baixo!
E assim, aquela ordem foi sendo cumprida de soldado para soldado.
Mas, se para o poeta havia uma pedra no meio do caminho, para o Capitão Raul Carriconde havia o soldado Bento. Tão logo ele recebeu a exortação sobre o buraco, fez uma das suas, pondo em risco todo o sucesso daquele pelotão: --Ei! atenção, tem um buraco lá frente. Cuidado para não cair nele! Estas palavras pronunciadas de maneira alta provocaram risos e desequilibrou toda a harmonia da missão que vinha sendo executada.
O soldado foi promovido. Tiraram do meio da fila para frente do Capitão Raul Carriconde, que não media esforços em sacolejá-lo e ameaçava dá-lhe uma semana de xadrez, caso o inimigo nos atacasse naquele instante.
Para felicidade do soldado Bento seus gritos perderam-se na imensidão daquela noite, assim como o pio das corujas que voavam naquela mata. Encerrando estas atividades, tivemos, a alegria de presenciar uma belíssima encenação sobre uma batalha, com bastantes tiros de festim e também munição traçante, de várias cores.
Depois, exaustos, cansados, com as roupas totalmente suadas e fedendo a lama, sem banho nenhum por um dia, fomos dormir. Recordo-me bem as palavras proferidas pelo Tenente Arnaud: “ –Isto aqui não é piquenique. O soldadinho não esteja pensando que veio acampar. Brincar de escoteiro. Isso é treinamento. Vocês vão dormir, mas permaneçam atentos. Nada de tirar os coturnos, a gandola e muito menos soltar o fuzil. Durmam abraçados com ele. Entenderam soldados?”
--Sim, senhor, tenente! Respondemos uníssono.
Exauridos tentamos dormir. Nas barracas espalhamos o poncho sobre o solo e fazíamos da mochila o travesseiro. Apenas folgávamos os coturnos e abríamos a gandola. O fuzil preso entre as pernas, nossa “namorada”, como tantas vezes tínhamos ouvido nas instruções de sala lá no quartel.
Surpresas teríamos naquela noite. E elas chegaram. Vieram trazendo em determinado momento um barulho infernal e bastante fumaça. Alguém jogou propositadamente uma granada de efeito moral naquele acampamento. Erguermo-nos, e rapidamente estávamos sob o comando do Tenente Arnaud que juntamente com os sargentos, cada qual respondendo pelo seu pelotão, adentrava a mata e se posicionava para proteger os demais.
Era madrugada. Meu corpo pedia descanso e desde a manhã daquele primeiro dia ansiava também por um banho e tudo o que eu tinha era uma mochila, um capacete de aço sobre outro de fibra, uma farda surja e fedorenta, um cantil e o fuzil. Isso era o que eu possuía para proteger o pedaço da pátria que naquele momento eu era “convidado” a fazer.
Ficamos ali por um bom tempo até recebermos a ordem de voltarmos ao acampamento. Tínhamos apenas pouco mais de três horas para descansar, isto é, se outras surpresas não viessem. E ali, o soldado Martins começou a se perguntar: “Por que vim para esta vida militar? Que planos tem Deus para mim num mundo tão diferente daquele até onde vivi em 1984?”. Olhava para meus companheiros, eles também não sabiam responder nem mesmo o porquê estavam servindo ao exército, imaginem perguntas filosóficas.
Passamos três dias acampados. No outro dia logo pela manhã tomamos banho e assim fizemos também no terceiro dia. O Exército não era tão ruim assim.
(Esta crônica é parte do meu próximo livro: Alvoradas no Itapiru)
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