O jornalismo potiguar está de luto. Faleceu na tarde do domingo
o mais emblemático profissional do colunismo social do estado, que
fez história e estabeleceu parâmetro a partir dos anos 1950 na cobertura dos assuntos de sociedade, eventos sociais e culturais e de negócios. O jornalista e imortal da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Paulo Macedo, morreu domingo quando se recuperava de uma
cirurgia após uma queda em que fraturou o fêmur.
Paulo não era apenas um ícone do jornalismo, um decano do
colunismo social, mas era também uma expressão da geografia
cultural de Natal, uma dessas raras pessoas que compõem a galeria de gente e de coisas que representam em si mesmas o retrato de uma época. Ele soube construir com seu espaço jornalístico, no rádio e no jornal (nas últimas décadas se estendeu também
à televisão), uma dimensão de glamour para um estado provinciano e expandir no plano nacional sua própria história pessoal.
Quando eu comecei a escrever em jornal, no Diário de Natal dos anos 80, onde ele e alguns da sua geração eram as
grandes referências, Paulo Macedo já se destacava entre todos
pela unanimidade de um bem
querer espalhado pelos diversos setores sociais, culturais,
políticos e econômicos do RN.
Ele tinha aquela essência da
canção de Lulu Santos que diz
“eu experimentei aquela sensação de estar em sua companhia”, porque todos reivindicavam sua presença; não havia cena festiva com algum glamour
se ali ele não estivesse.
Paulo estabeleceu uma marca difícil para qualquer jornalista. Não ter desafetos públicos. Porque se os tinha – e deve ter tido alguma vez – jamais
deixou transparecer na sua coluna, onde não havia espaço para agressões, achaques ou recados maledicentes.
Se alguém não gostasse dele, dava de troco o silêncio, e mesmo que tal pessoa ganhasse o
prêmio Nobel ele não citaria, ignoraria. É certo que havia os casos em que cobria de elogios algum inimigo daquela figura, mas
nem todo cristão aguenta dar a
outra face, né mesmo?
Paulo Macedo fez um jornalismo elegante, voltado para o
enaltecimento e elogio dos seus
personagens, e foi um dos profissionais que mais fez em favor
da vida em sociedade e da atividade cultural do estado e principalmente de Natal.
Sua passagem pela Secretaria Municipal de Turismo e
pela Fundação José Augusto
deixou marcas e legados, como
o Memorial Câmara Cascudo.
E no plano político muitas obras surgiram a partir das notas em que cobrava benefícios
pra cidade.
Tive a honra de ter convivido com ele durante meus doze
anos no Diário de Natal e também na TV Ponta Negra. Nos últimos anos, fomos de novo colegas de atividade nas sessões semanais do Conselho Estadual de
Cultura, onde ele tinha assento
há anos, sempre renovando o
mandato por iniciativa de todos
os governos que o respeitavam.
Sua morte é uma perda indelével para Natal, que deixa
uma lacuna no jornalismo, no
Conselho de Cultura e na Academia de Letras. E, provavelmente, sepulta com ele os valores de uma época que jornalismo nenhum trará de volta.
Alex Medeiros.
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