terça-feira, 7 de julho de 2020

PAULO MACEDO, SINGULAR

    O jornalismo potiguar está de luto. Faleceu na tarde do domingo o mais emblemático profissional do colunismo social do estado, que fez história e estabeleceu parâmetro a partir dos anos 1950 na cobertura dos assuntos de sociedade, eventos sociais e culturais e de negócios. O jornalista e imortal da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Paulo Macedo, morreu domingo quando se recuperava de uma cirurgia após uma queda em que fraturou o fêmur.

   Paulo não era apenas um ícone do jornalismo, um decano do colunismo social, mas era também uma expressão da geografia cultural de Natal, uma dessas raras pessoas que compõem a galeria de gente e de coisas que representam em si mesmas o retrato de uma época. Ele soube construir com seu espaço jornalístico, no rádio e no jornal (nas últimas décadas se estendeu também à televisão), uma dimensão de glamour para um estado provinciano e expandir no plano nacional sua própria história pessoal. 

     Quando eu comecei a escrever em jornal, no Diário de Natal dos anos 80, onde ele e alguns da sua geração eram as grandes referências, Paulo Macedo já se destacava entre todos pela unanimidade de um bem querer espalhado pelos diversos setores sociais, culturais, políticos e econômicos do RN. 

    Ele tinha aquela essência da canção de Lulu Santos que diz “eu experimentei aquela sensação de estar em sua companhia”, porque todos reivindicavam sua presença; não havia cena festiva com algum glamour se ali ele não estivesse.

    Paulo estabeleceu uma marca difícil para qualquer jornalista. Não ter desafetos públicos. Porque se os tinha – e deve ter tido alguma vez – jamais deixou transparecer na sua coluna, onde não havia espaço para agressões, achaques ou recados maledicentes.

     Se alguém não gostasse dele, dava de troco o silêncio, e mesmo que tal pessoa ganhasse o prêmio Nobel ele não citaria, ignoraria. É certo que havia os casos em que cobria de elogios algum inimigo daquela figura, mas nem todo cristão aguenta dar a outra face, né mesmo? 

    Paulo Macedo fez um jornalismo elegante, voltado para o enaltecimento e elogio dos seus personagens, e foi um dos profissionais que mais fez em favor da vida em sociedade e da atividade cultural do estado e principalmente de Natal. 

    Sua passagem pela Secretaria Municipal de Turismo e pela Fundação José Augusto deixou marcas e legados, como o Memorial Câmara Cascudo. E no plano político muitas obras surgiram a partir das notas em que cobrava benefícios pra cidade. 

    Tive a honra de ter convivido com ele durante meus doze anos no Diário de Natal e também na TV Ponta Negra. Nos últimos anos, fomos de novo colegas de atividade nas sessões semanais do Conselho Estadual de Cultura, onde ele tinha assento há anos, sempre renovando o mandato por iniciativa de todos os governos que o respeitavam.

      Sua morte é uma perda indelével para Natal, que deixa uma lacuna no jornalismo, no Conselho de Cultura e na Academia de Letras. E, provavelmente, sepulta com ele os valores de uma época que jornalismo nenhum trará de volta.

                                                                           Alex Medeiros.



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